Acusada de pirâmide Lifetycon pede recuperação judicial na Justiça e cita guerra como motivo

Empresa afirma que queda no preço do Bitcoin e guerra entre Rússia e Ucrânia desestabilizaram o mercado e geraram onde de retiradas
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Foto: Shutterstock

A Lifetycon entrou no dia 25 de fevereiro com um pedido de recuperação judicial. A empresa prometia lucros por meio de investimentos em criptomoedas mas parou de pagar seus clientes desde o final do ano passado.

A empresa culpa o calote pela queda do preço do Bitcoin desde seu recorde de US$ 69 mil em novembro do ano passado, a guerra entre Rússia e Ucrânia e a ansiedade dos clientes não acostumados com o mercado de criptomoedas.

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“As inseguranças dos novos investidores a curto prazo, frente a inegável volatilidade do mercado financeiro digital atual, ocasionaram uma grande retirada e inúmeros saques pelos investidores, desestabilizaram os sistemas da corretora, gerando uma pane nos sistemas e programas de controle, e ainda e descapitalizando a atividade empresarial, logo, afetando diretamente todas as operações da Requerente, ocasionando a crise econômica enfrentada pela sociedade empresária”, diz a empresa no documento do pedido.

Sobre o preço do Bitcoin, a Lifetycon afirma que a cripto “enfrenta uma das menores cotações dos últimos
tempos. Nascendo como promessa de um sistema alternativo e descentralizado, vive um período mais longo de correção e queda nos preços dos criptoativos, ligados principalmente a interferência de fatores externos extraordinários no mercado”.

Até para a guerra entre Rússia e Ucrânia sobrou, mesmo o fato sendo que as criptomoedas vem passando por forte valorização desde que o conflito teve início. “Dentre os mais recentemente fatores externos, o embate da Rússia contra a Ucrânia, resultou em uma queda significativa da capitalização de mercado de todas as criptomoedas, em US$ 200 bilhões após a invasão da Rússia à Ucrânia”.

Assim, a empresa diz que tomou a “decisão de interromper as retiradas do sistema para evitar que maiores impactos,” e que, “apesar da tentativa de minimizar os impactos aos clientes, as estratégias não surtiram resultados esperados. A crise enfrentada pela empresa rapidamente se espalhou entre os investidores que usam a plataforma e clientes, afetando diretamente a operação da Requerente, face a limitação dos recursos”.

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Conforme especialista em direito econômico Gustavo Martinelli, o pedido de recuperação judicial significa anunciar para o público geral, especialmente para o mercado, que a empresa em questão precisa “apertar os cintos”. Isto é, tornar pública a crise e avisar que precisa tomar atitudes mais rígidas para tentar sobreviver.

Procedimento padrão das pirâmides

A prática de pedido de recuperação judicial por pirâmides financeiras não é incomum no mercado brasileiro.

Em novembro de 2019, o Bitcoin Banco e demais empresas ligadas a Claudio Oliveira, o falso “Rei do Bitcoin”, entraram na Justiça com um pedido de recuperação judicial.

Já em abril de 2020, a Justiça impediu a continuação da Recuperação Judicial da empresa. A decisão foi expedida pelo desembargador Espedito Reis do Amaral, que ordenou a realização de uma perícia para verificar as reais condições das recuperandas.

Um ano depois, em abril de 2021, o juiz Marcelo Barbosa Sacramone, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, determinou a falência da BWA Brasil, empresa suspeita de pirâmide financeira que deu calote de R$ 300 milhões nos investidores.

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O motivo, segundo decisão que a reportagem do Portal do Bitcoin teve acesso, é que a empresa não colaborou com o processo de recuperação judicial, aprovado pela Justiça em julho de 2020, e não repassou informações pedidas pela administradora judicial do negócio, a Laspro Consultores.

Câmara pede ajuda do Procon

A Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste, Santa Catarina, aprovou no dia 22 de fevereiro a Moção 2/2022, que provoca o Procon catarinense a avaliar as condutas da suposta empresa de investimentos em criptomoedas Lifetycon, acusada de dar calote em centenas de clientes moradores no município.

O objetivo, segundo o autor do documento, o vereador Valnir Camilo Scharnoski (PL), é que os Procons do município e do estado viabilizem junto à Lifetycon e seu presidente, Eliade Costa, alternativas para pagamento dos valores devidos.

O vereador não poupou críticas a Eliade Costa, a quem chamou de “ladrão”. “As pessoas foram lesadas”, disse.

Durante a discussão, o vereador Vagner Rodrigues dos Passos (PSL) afirmou que o dono da Lifetycon foi de professor de violão a megainvestidor em pouco tempo.

“Que eu saiba ele não tinha experiência no ramo né, pois dava aula de violão. E a empresa dele virou uma megapotência. A última vez que o vi ele estava com quatro seguranças. Então você vê, em três anos, é uma carreira meteórica né”, disse Passos, afirmando que a própria filha teve aulas com Costa. “De professor de violão para megainvestidor. É mega porque se fala milhões né”, ressaltou.

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“Até agora, a gente sabe que foram centenas, mas pode ser que chegue a milhares de pessoas que foram enganadas. A não ser que o dono se apresenta com alguma satisfação”, disse.

Vereador criticou quem ajudou a Lifetycon crescer

O autor da Menção, Valnir, também comentou sobre o caso e fez duras críticas àqueles que ajudaram no crescimento do negócio controverso da Lifetycon. Conforme apurou recentemente o Portal do Bitcointrata-se de um esquema clássico: a empresa prometia lucros de 5% ao mês, que seriam obtidos com o genérico “investimento em criptomoedas”.

“Contratam pessoas que estão trabalhando em outro local, bem assalariadas; iludiram essas pessoas, contrataram e começaram a vender uma história que eu acho que era meio ilusória”, disse Valnir sobre a Lifetycon, afirmando que também foi procurado para aderir ao negócio.

Ele acrescentou: “Muitas pessoas investiram. Eu acredito que São Miguel do Oeste botou mais de R$ 100 milhões. Isso é um absurdo! Alguém vem aqui, lesa a população, vai embora e ninguém sai procurando”.